quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

O Livro dos Espíritos: introdução VIII

Acrescentemos que o estudo de uma doutrina, qual a Doutrina Espírita, que nos lança de
súbito numa ordem de coisas tão nova quão grande, só pode ser feito com utilidade por
homens sérios, perseverantes, livres de prevenções e animados de firme e sincera vontade
de chegar a um resultado. Não sabemos como dar esses qualificativos aos que julgam a
priori, levianamente, sem tudo ter visto; que não imprimem a seus estudos a continuidade, a
regularidade e o recolhimento indispensáveis. Ainda menos saberíamos dá-los a alguns que,
para não decaírem da reputação de homens de espírito, se afadigam por achar um lado
burlesco nas coisas mais verdadeiras, ou tidas como tais por pessoas cujo saber, caráter e
convicções lhes dão direito à consideração de quem quer que se preze de bem-educado.
Abstenham-se, portanto, os que entendem não serem dignos de sua atenção os fatos.
Ninguém pensa em lhes violentar a crença; concordem, pois, em respeitar a dos outros.
O que caracteriza um estudo sério é a continuidade que se lhe dá. Será de admirar
que muitas vezes não se obtenha nenhuma resposta sensata a questões de si mesmas graves,
quando propostas ao acaso e à queima-roupa, em meio de uma aluvião de outras
extravagantes? Demais, sucede freqüentemente que, por complexa, uma questão, para ser
elucidada, exige a solução de outras preliminares ou complementares. Quem deseje tornarse
versado numa ciência tem que a estudar metodicamente, começando pelo princípio e
acompanhando o encadeamento e o desenvolvimento das idéias. Que adiantará aquele que,
ao acaso, dirigir a um sábio perguntas acerca de uma ciência cujas primeiras palavras
ignore? Poderá o próprio sábio, por maior que seja a sua boa-vontade, dar-lhe resposta
satisfatória? A resposta isolada, que der, será forçosamente incompleta e quase sempre por
isso mesmo, ininteligível, ou parecerá absurda e contraditória. O mesmo ocorre em nossas
relações com os Espíritos. Quem quiser com eles instruir-se tem que com eles fazer um
curso; mas, exatamente como se procede entre nós deverá escolher seus professores e
trabalhar com assiduidade.
Dissemos que os Espíritos superiores somente às sessões sérias acorrem, sobretudo
às em que reina perfeita comunhão de pensamentos e de sentimentos para o bem. A
leviandade e as questões ociosas os afastam, como, entre os homens, afastam as pessoas
criteriosas; o campo fica, então, livre à turba dos Espíritos mentirosos e frívolos, sempre à
espreita de ocasiões propícias para zombarem de nós e se divertirem à nossa custa. Que é o que se
dará com uma questão grave em reuniões de tal ordem? Será respondida; mas, por quem?
Acontece como se a um bando de levianos, que estejam a divertir-se, propusésseis estas
questões: Que é a alma? Que é a morte? e outras tão recreativas quanto essas. Se quereis
respostas sisudas, haveis de comportar-vos com toda a sisudeza, na mais ampla acepção do
termo, e de preencher todas as condições reclamadas. Só assim obtereis grandes coisas.
Sede, além do mais, laboriosos e perseverantes nos vossos estudos, sem o que os Espíritos
superiores vos abandonarão, como faz um professor com os discípulos negligentes.

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