sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

O Livro dos Espíritos: introdução IX

O movimento dos objetos é um fato incontestável. A questão está em saber se, nesse
movimento, há ou não uma manifestação inteligente e, em caso de afirmativa, qual a origem
dessa manifestação.
Não falamos do movimento inteligente de certos objetos, nem das comunicações
verbais, nem das que o médium escreve diretamente. Este gênero de manifestações,
evidente para os que viram e aprofundaram o assunto, não se mostra, à primeira vista,
bastante independente da vontade, para firmar a convicção de um observador novato. Não
trataremos, portanto, senão da escrita obtida com o auxílio de um objeto qualquer munido
de um lápis, como cesta, prancheta, etc. A maneira pela qual os dedos do médium repousam
sobre os objetos desafia, como atrás dissemos, a mais consumada destreza de sua parte no
intervir, de qualquer modo, em o traçar das letras. Mas admitamos que a alguém, dotado de
maravilhosa habilidade, seja isso possível e que esse alguém consiga iludir o olhar do
observador; como explicar a natureza das respostas, quando se apresentam fora do quadro
das idéias e conhecimentos do médium? E note-se que não se trata de respostas
monossilábicas, porém, muitas vezes, de numerosas páginas escritas com admirável
rapidez, quer espontaneamente, quer sobre determinado assunto. De sob os dedos do
médium menos versado em literatura, surgem de quando em quando poesias de impecáveis
sublimidade e pureza, que os melhores poetas humanos não se dedignariam de subscrever.
O que ainda torna mais estranhos esses fatos é que ocorrem por toda parte e que os médiuns
se multiplicam ao infinito. São eles reais ou não? Para esta pergunta só temos uma resposta:
vede e observai; não vos faltarão ocasiões de fazê-lo; mas, sobretudo, observai repetidamente, por longo tempo e de acordo com as condições exigidas.
Que respondem a essa evidência os antagonistas? - Sois vítimas do charlatanismo ou
joguete de uma ilusão. Diremos, primeiramente, que a palavra charlatanismo não cabe onde
não há proveito. Os charlatães não fazem grátis o seu ofício. Seria, quando muito, uma
mistificação. Mas, por que singular coincidência esses mistificadores se achariam acordes,
de um extremo a outro do mundo, para proceder do mesmo modo, produzir os mesmos
efeitos e dar, sobre os mesmos assuntos e em línguas diversas, respostas idênticas, senão
quanto à forma, pelo menos quanto ao sentido? Como compreender-se que pessoas
austeras, honradas, instruídas se prestassem a tais manejos? E com que fim? Como achar
em crianças a paciência e a habilidade necessárias a tais resultados? Porque, se os médiuns
não são instrumentos passivos, indispensáveis se lhes fazem habilidade e conhecimentos
incompatíveis com a idade infantil e com certas posições sociais.
Dizem então que, se não há fraude, pode haver ilusão de ambos os lados. Em boa
lógica, a qualidade das testemunhas é de alguma importância. Ora, é aqui o caso de
perguntarmos se a Doutrina Espírita, que já conta milhões de adeptos, só os recruta entre os
ignorantes? Os fenômenos em que ela se baseia são tão extraordinários que concebemos a
existência da dúvida. O que, porém, não podemos admitir é a pretensão de alguns
incrédulos, a de terem o monopólio do bom-senso, e que, sem guardarem as conveniências
e respeitarem o valor moral de seus adversários, tachem, com desplante, de ineptos os que
lhes não seguem o parecer. Aos olhos de qualquer pessoa judiciosa, a opinião das que,
esclarecidas, observaram durante muito tempo, estudaram e meditaram uma coisa,
constituirá sempre, quando não uma prova, uma presunção, no mínimo, a seu favor, visto
ter logrado prender a atenção de homens respeitáveis, que não tinham interesse algum em
propagar erros nem tempo a perder com futilidades.

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