quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

O Livro dos Espíritos: introdução V

Reconheceu -se mais tarde que a cesta e a prancheta não eram, realmente, mais do
que um apêndice da mão; e o médium, tomando diretamente do lápis, se pôs a escrever por
um impulso involuntário e quase febril. Dessa maneira, as comunicações se tornaram mais
rápidas, mais fáceis e mais completas. Hoje é esse o meio geralmente empregado e com
tanto mais razão quanto o número das pessoas dotadas dessa aptidão é muito considerável e
cresce todos os dias. Finalmente, a experiência deu a conhecer muitas outras variedades da
faculdade mediadora, vindo-se a saber que as comunicações podiam igualmente ser
transmitidas pela palavra, pela audição, pela visão, pelo tato, etc., e até pela escrita direta
dos Espíritos, isto é, sem o concurso da mão do médium, nem do lápis.
Obtido o fato, restava comprovar um ponto essencial - o papel do médium nas
respostas e a parte que, mecânica e moralmente, pode ter nelas. Duas circunstâncias
capitais, que não escapariam a um observador atento, tornam possível resolver-se a questão.
A primeira consiste no modo por que a cesta se move sob a influência do médium, apenas
lhe impondo este os dedos sobre os bordos. O exame do fato demonstra a impossibilidade
de o médium imprimir uma direção qualquer ao movimento daquele objeto. Essa
impossibilidade se patenteia, sobretudo, quando duas ou três pessoas colocam juntamente
as mãos sobre a cesta. Fora preciso entre elas uma concordância verdadeiramente fenomenal de movimentos. Fora preciso,
demais, a concordância dos pensamentos, para que pudessem estar de acordo quanto à
resposta a dar à questão formulada. Outro fato, não menos singular, ainda vem aumentar a
dificuldade. É a mudança radical da caligrafia, conforme o Espírito que se manifesta,
reproduzindo-se a de um determinado Espírito todas as vezes que ele volta a escrever. Fora
necessário, pois que o médium se houvesse exercitado em dar à sua própria caligrafia vinte
formas diferentes e, principalmente, que pudesse lembrar-se da que corresponde a tal ou tal
Espírito.
A segunda circunstância resulta da natureza mesma das respostas que, as mais das
vezes, especialmente quando se ventilam questões abstratas e científicas, estão
notoriamente fora do campo dos conhecimentos e, amiúde, do alcance intelectual do
médium, que, além disso, como de ordinário sucede, não tem consciência do que se escreve
debaixo da sua influência; que, freqüentemente, não entende ou não compreende a questão
proposta, pois que esta o pode ser num idioma que ele desconheça, ou mesmo mentalmente,
podendo a resposta ser dada nesse idioma. Enfim, acontece muito escrever a cesta
espontaneamente, sem que se haja feito pergunta alguma, sobre um assunto qualquer,
inteiramente inesperado.
Em certos casos, as respostas revelam tal cunho de sabedoria, de profundeza e de
oportunidade; exprimem pensamentos tão elevados, tão sublimes, que não podem emanar
senão de uma Inteligência superior, impregnada da mais pura moralidade. Doutras vezes,
são tão levianas, tão frívolas, tão triviais, que a razão recusa admitir derivem da mesma
fonte. Tal diversidade de linguagem não se pode explicar senão pela diversidade das
Inteligências que se manifestam. E essas Inteligências estão na Humanidade ou fora da
Humanidade? Este o ponto a esclarecer-se e cuja explicação se encontrará completa nesta
obra, como a deram os próprios Espíritos.
Eis, pois, efeitos patentes, que se produzem fora do círculo habitual das nossas
observações; que não ocorrem misteriosamente, mas, ao contrário, à luz meridiana, que
toda gente pode ver e comprovar; que não constituem privilégio de um único indivíduo e
que milhares de pessoas repetem todos os dias. Esses efeitos têm necessariamente uma
causa e, do momento que denotam a ação de uma inteligência e de uma vontade, saem do
domínio puramente físico.
Muitas teorias foram engendradas a este respeito. Examiná-las-emos dentro em pouco e
veremos se são capazes de oferecer a explicação de todos os fatos que se observam.
Admitamos, enquanto não chegamos até lá, a existência de seres distintos dos humanos,
pois que esta é a explicação ministrada pelas Inteligências que se manifestam, e vejamos o
que eles nos dizem.

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